domingo, 1 de dezembro de 2013

O Largo de Infias (Partilha de saber...Luís Dias Costa)



Partilha de saber  ... Luís Dias Costa (Face Memórias de Braga)


O LARGO DE INFIAS

Ultrapassando a Igreja de São Vicente, e seguindo pela rua Dr. Domingos Soares, deparamos com o Largo de Infias, no qual se destaca a mole imensa do antigo colégio dos Padres do Espírito Santo, que foi declarado propriedade do Estado e dos Corpos Administrativos pelo artigo 62º da lei da República de 20 de Abril de 1911, e que passou a ser a sede do Liceu de Braga, Sá de Miranda, depois de profundas obras, por volta dos anos vinte do século passado, transferido da Avenida Central onde se encontrava sediado quase desde a sua criação em 1841, no edifício conventual dos Congregados de São Filipe de Nery.
Neste largo, bela placa ajardinada, vê-se o busto do bracarense Dr. Domingos Pereira, homenagem prestada pelos republicanos de Braga, em pleno Estado Novo, ao Presidente da Comissão Administrativa da Câmara de Braga, após a instalação em 1910 da República Portuguesa e logo a seguir Presidente do Ministério, além de outros elevados cargos e serviços que prestou à novel república.
Neste RECANTO de Braga, tem especial destaque, o Cruzeiro do Senhor das Ânsias, que para o local foi removido do então Largo dos Penedos (hoje Praça Alexandre Herculano) na confluência das ruas dos Chãos, Carvalhal, Santo André e São Vicente. A sua cobertura, em triângulo, é sustentada por três colunas rematadas por capitéis do estilo coríntio. É uma saudação da Braga Católica, aos viajantes que vindo dos lados do Cávado vem à cidade. Pena é que agora se encontre praticamente encoberto por uma grande placa informativa. NÃO HAVERIA OUTRO LOCAL ? OU SERÁ QUE FOI PROPOSITADAMENTE COLOCADA PARA ENCOBRIR A MENSAGEM DA BRAGA CATÓLICA ?
Fronteiro a esta placa ajardinada, encontramos dentro de um jardim gradeado, á entrada da nova urbanização de Infias (mais um dos ultimamente “aparcamentos-armazéns de pessoas, terrenos Pachancho, em prejuízo dum projecto que não interessava aos IMOBILIÁRIOS), encontra-se o Palacete Arantes, construído no início do século passado (a sua construção custou a então quantia de DEZOITO CONTOS de reis OURO, dinheirão imenso para a altura), pelo capitalista brasileiro que deu nome à rua de acesso à referida urbanização, nos terrenos e casa do então Barão de Torrados.
É um palacete tipicamente de brasileiro, de 1900 e até há pouco com o seu jardim romântico, lago, pontezinha e arvoredo exótico e uma fachada do estilo usado pelos endinheirados “retornados do Brasil”, (onde o clima aconselhava a janelas e portas altas), com vidros trabalhados com o monograma do proprietário, capela e todas as mais conveniências destinadas ao bom estar dos que ali iriam descansar depois de uma vida de trabalho pela “estranja”.
Nesse palacete, hoje ampliado, mas respeitando a construção inicial, depois de uma necessária adaptação a uma Albergaria de luxo, destaca-se a torre-mirante, habitual nas construções mandadas fazer por estes ricos ex-emigrantes.
À entrada da rua de Infantaria 8, e ladeando-a pela parte ocidental e já no começo da estrada nacional que nos leva a Vila Verde e Alto Minho, deparamos com a Casa de Vale Flores, casa brasonada do século XVII, da família Pereira Pacheco (ainda hoje está na posse dos herdeiros desta família). No seu lado, num dos braços do U do conjunto, precisamente o da entrada da rua do Regimento, encontra-se a capela de Nossa Senhora do Pilar, que pertenceu ao bispo de Elvas Dom Alexandre da Silva, a quem sucedeu por sua morte a posse a sua irmã, Dona Natália da Silva, que por sua vez a deixou à Irmandade de Santa Cruz.
Em 1687, conforme se lê na inscrição lapidar que se encontra sobre a porta de entrada, foi comprada à Irmandade, pelo fidalgo de Casa Real e cavaleiro professo na Ordem de Cristo, João Borges Pereira Pacheco, que a anexou à sua Casa de Vale Flores. Necessitando de obras, mandou este fidalgo restaurá-la, e requereu ao Arcebispo consentimento para de novo a sagrar e nela proceder aos Ofícios Divinos. Ainda hoje é pertença dos herdeiros. Nela estava pendente da parede uma pintura representando o martírio de um padre jesuíta, irmão de Dona Ana Borges Pacheco, avó do comprador do templo, que tinha os dizeres:

“O padre Francisco Pacheco, filho de Garcia Lopes Pacheco e de Maria
Borges de Mesquita da vila de Ponte de Lima, provincial da Companhia
de Jesus no Japão onde foi martirizado queimado vivo com Francisco
Valente em Magassa a 21 de Julho de 1628.”

A representação pictórica deste martírio está representada no tecto do Salão Nobre do Museu dos Biscainhos. O jesuíta martirizado era também familiar desta Casa.
Um túmulo de pedra, colocado na parede do lado nascente, encerra os restos mortais do comprador da capela e tem uma inscrição que diz :

“SEPULTURA DE JOAM BORGES PEREY-
RA PACHECO FIDALGO DA CAZA DE
SVA MAGESTADE CAVALEYRO
PROFESSO NA ORDEM DE CHRISTO
ANNO DE 1687”

Aliada a esta Casa e Capela anda uma lenda com um terrível desfecho.
Todo o conjunto, Casa e Capela, estão classificados pelo decreto 129/77, de 29 de Setembro de 1977, como imóveis de interesse público.

Braga, 20 de Junho de 2006
LUIS COSTA

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